Rainha dos Céus

Para compreender o nono mandamento

O NONO MANDAMENTO

“Não cobiçarás a casa do teu próximo, não desejarás a mulher do próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, ou o seu jumento, nem coisa alguma que pertença a teu próximo” (Ex 20, 17).
“Todo aquele que olhar para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela no seu coração”
(Mt 5, 28).

  1. São João distingue três espécies de cobiça ou concupiscência: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Conforme a tradição catequética católica, o nono mandamento proíbe a concupiscência carnal; e o décimo, proíbe a cobiça dos bens alheios.
  2. No sentido etimológico, a “concupiscência” pode designar qualquer forma veemente de desejo humano. A teologia cristã lhe deu o sentido particular de moção do apetite sensível que se opõe aos ditames da razão humana. O Apóstolo Paulo a identifica com a revolta que a “carne” provoca contra o “espírito”. Procede da desobediência do primeiro pecado. Transtorna as faculdades morais do homem e, sem ser pecado em si mesma, inclina-o a cometê-lo.
  3. Já no homem, tratando-se de um ser composto, espírito e corpo, existe certa tensão, desenrola-se certa luta de tendências entre o “espírito” e a “carne”. Mas essa luta, de fato, pertence à herança do pecado, é uma consequência dele e, ao mesmo tempo, uma confirmação, e faz parte da experiência do combate espiritual:

Para o Apóstolo, não se trata de discriminar e condenar o corpo que, juntamente com a alma espiritual, constitui a natureza do homem e a sua subjetividade pessoal. Ele quis tratar, sobretudo das obras, ou melhor, das disposições estáveis – virtudes e vícios – moralmente boas ou más, que são fruto da submissão (no primeiro caso) ou, pelo contrário, de resistência (no segundo caso) à ação salvífica do Espírito Santo. Por isso o Apóstolo escreve: “Se, portanto, vivemos pelo espírito, caminhemos também segundo o espírito” (Gl 5,25).

 I. A purificação do coração

  1. O coração é a sede da personalidade moral: “É do coração que procedem as más intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações” (Mt 15, 19). A luta contra a concupiscência da carne passa pela purificação do coração e pela prática da temperança:”Conserva-te na simplicidade, na inocência, e serás como as criancinhas que ignoram o mal destruidor da vida dos homens”.
  2. A sexta bem‐aventurança proclama: “Bem‐aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8). A expressão “puros de coração” designa aqueles que entregaram o coração e a inteligência às exigências da santidade de Deus, principalmente em três campos: a caridade; a castidade ou retidão sexual, o amor à verdade e à ortodoxia da fé. Existe um laço de união entre a pureza do coração, do corpo e da fé:

Os fiéis devem crer nos artigos do símbolo, “para que, crendo, obedeçam a Deus; obedecendo, vivam corretamente; vivendo corretamente, purifiquem seu coração; e, purificando o coração, compreendam o que creem”.

  1. Aos “puros de coração” está prometido ver a Deus face a face e ser semelhantes a Ele. A pureza do coração é condição prévia da visão. Desde já nos concede ver segundo Deus, receber outro como um “próximo”, permite-nos perceber o corpo humano, o nosso próximo, como um templo do Espírito Santo, uma manifestação da beleza divina.

II. A luta pela pureza

2520. O Batismo confere àquele que o recebe a graça da purificação de todos os pecados. Mas o batizado deve continuar a lutar contra a concupiscência da carne e as cobiças desordenadas. Com a graça de Deus, alcançará a pureza de coração:

– pela virtude e pelo dom da castidade, pois a castidade permite amar com um coração reto e indiviso;

– pela pureza de intenção, que consiste em ter em vista o verdadeiro fim do homem; com uma atitude simples, o batizado procura encontrar e realizar a vontade de Deus em todas as coisas.

– pela pureza do olhar, exterior e interior; pela disciplina dos sentimentos e da imaginação; pela recusa de toda complacência nos pensamentos impuros que tendem a desviar do caminho dos mandamentos divinos: “A vista desperta a paixão dos insensatos” (Sb 15, 5).

– pela oração:
“Eu julgava que a continência dependia das minhas próprias forças…forças que eu não conhecia em mim. E eu era tão insensato que não sabia que ninguém pode ser continente, se vós não lho concedeis. E sem dúvida mo teríeis concedido, se com meus gemidos interiores vos ferisse os ouvidos e, com firme fé, depusesse em vós minha preocupação”.

  1. A pureza exige o pudor. Está é uma parte integrante da temperança. O pudor preserva a intimidade da pessoa. Consiste na recusa de mostrar aquilo que deve ficar escondido. Está ordenado à castidade, exprimindo sua delicadeza. Orienta os olhares e os gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e de sua união.
  2. O pudor protege o mistério da pessoa e de seu amor. Convida à paciência e à moderação na relação amorosa; pede que sejam cumpridas as condições da doação e do compromisso definitivo do homem e da mulher entre si. O pudor é modéstia. Inspira o modo de vestir. Mantém o silêncio ou certa reserva quando se entrevê o risco de uma curiosidade malsã. Torna-se discrição.
  3. Existe um pudor dos sentimentos, como existe o do corpo. O pudor, por exemplo, protesta contra a exploração do corpo humano em função de uma curiosidade doentia (como em certo tipo de publicidade), ou contra a solicitação de certos meios de comunicação a ir longe demais na revelação de confidências íntimas. O pudor inspira um modo de viver que permite resistir às solicitações da moda e à pressão das ideologias dominantes.
  4. As formas revestidas pelo pudor variam de uma cultura a outra. Em toda a parte, porém, ele permanece como o pressentimento de uma dignidade espiritual própria do homem. O pudor nasce pelo despertar da consciência do sujeito. Ensinar o pudor às crianças e adolescentes é despertá‐los para o respeito à pessoa humana.
  5. A pureza cristã requer uma purificação do clima social. Exige dos meios de comunicação social uma informação que não ofenda o respeito e a modéstia. A pureza de coração liberta a pessoa do erotismo tão difuso e afasta-a dos espetáculos que favorecem o voyeurismo e a ilusão.
  6. O que se costuma chamar permissividade dos costumes se apoia numa concepção errônea da liberdade humana; para se edificar, esta última tem necessidade de se deixar educar previamente pela lei moral. Convém exigir dos responsáveis pela educação que deem à juventude um ensino respeitoso da verdade, das qualidades do coração e da dignidade moral e espiritual do homem.
  7. “A boa‐nova de Cristo restaura constantemente a vida e a cultura do homem decaído; combate e remove os erros e os males decorrentes da sempre ameaçadora sedução do pecado. Purifica e eleva incessantemente os costumes dos povos. Com as riquezas do alto ela fecunda, como que por dentro, as qualidades do espírito e os dotes de cada povo e de cada idade; fortifica-os, aperfeiçoa-os e restaura-os em Cristo”.

Resumindo:

  1. “Todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela no seu coração” (Mt 5, 28).
  2. O nono mandamento adverte contra a cobiça ou concupiscência carnal.
  3. A luta contra a cobiça carnal passa pela purificação do coração e pela prática da temperança.
  4. A pureza de coração nos permitirá ver a Deus e nos permite desde já ver todas as coisas segundo Deus.
  5. A purificação do coração exige a oração, a prática da castidade, a pureza de intenção e do olhar.
  6. A pureza do coração exige o pudor, que é paciência, modéstia e discrição. O pudor preserva a intimidade da pessoa.

Fonte: Catecismo da Igreja Católica págs. 645 à 649
Vídeo: TV Canção Nova

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